Gestão compartilhada da Maternidade Dona Íris completa 10 anos
Convênio firmado entre UFG, Fundahc e SMS elevou qualidade da assistência à saúde oferecida pelo SUS
Texto: Kharen Stecca, Monique Pacheco e Versanna Carvalho
Há dez anos, em junho de 2012, teve início o convênio para a gestão compartilhada entre a Universidade Federal de Goiás (UFG), a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc) e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), da Prefeitura de Goiânia, para administrar o Hospital e Maternidade Dona Íris (HMDI). Era a primeira vez que a Fundahc iria gerir um hospital que não fazia parte da rede de hospitais universitários, como é o caso do Hospital das Clínicas da UFG.
Fotos do trabalho na Maternidade Dona Íris
A bagagem acadêmica e administrativa da UFG foi determinante para a formalização do convênio. Experiência que envolve desde a atenção com os procedimentos e protocolos da saúde vigentes, o rigor científico e a preocupação constante com a formação e atualização da equipe de trabalho, mostrou-se um diferencial na hora de administrar os recursos do HMDI, por meio da FUNDAHC.
Atualmente, o HMDI realiza cerca de 500 partos por mês, mais de 5 mil ao ano. Possui 69 leitos de enfermaria, 6 leitos para parto normal, 5 salas de centro cirúrgico, 4 leitos de sala de cuidados, 10 leitos de Unidades de Cuidados Intermediários Neonatais (UCIN), 5 leitos de UCIN Canguru e 10 leitos de Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN).
O HMDI conquistou, em 2015, o título de Hospital Amigo da Criança, promovido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Organização Mundial de Saúde (OMS), Ministério da Saúde (MS), governos e grupos interessados. O reconhecimento ocorreu a partir da publicação no Diário Oficial da União (DOU) da Portaria nº 1.089, de 14 de outubro daquele ano. Para receber a honraria, a unidade hospitalar precisa seguir 10 passos, que estimulem o vínculo entre mãe e bebê. Um dos mais relevantes envolve o incentivo e apoio à amamentação já na primeira hora de vida da criança.
Princípio
Essa excelência vem desde o princípio da Universidade Federal de Goiás, fundada há quase 62 anos, e da própria FUNDAHC, criada em 1998, que apresenta nos objetivos e finalidades contidas no seu estatuto (atualizado em 2018), cinco pontos fundamentais: apoiar técnica e financeiramente programas de assistência médico-hospitalar, ensino e pesquisa em geral; manter, parcial ou integralmente, o Hospital das Clínicas da UFG, bem como outras unidades afins, ligadas ou não à Universidade; fomentar a formação de recursos humanos por meio da participação em eventos científicos; e conceder bolsas de estudo a nível de graduação, extensão e pós-graduação.
A analista de projetos da FUNDAHC é a enfermeira Maria Auxiliadora Gomes de Mello Brito, que atua na Fundação desde o final de 2011 quando começaram as negociações para o primeiro convênio com a SMS. “Desde o início, a preocupação sempre foi a qualidade da assistência à população que necessita do serviço prestado na maternidade. Essa preocupação aliada à vocação primária da UFG na formação de profissionais qualificados, de trazer para a prática da assistência hospitalar o ensino, dos alunos, acadêmicos e residentes de várias profissões, tem contribuído muito para a melhoria dessa qualidade”, avalia.
Maria Auxiliadora relata ter muitas lembranças das primeiras discussões até o momento atual desse formato de gestão hospitalar, que é compartilhada entre os três entes. Para ela, a parceria tem sido muito profícua, gerando resultados positivos na atenção à população atendida pelo SUS [Sistema Único de Saúde], promovendo a qualidade da assistência à mulher nas especialidades de ginecologia, obstetrícia e neonatologia.
Residentes durante acompanhamento no hospital
O HMDI, além da promover a residência médica em diversas especialidades como ginecologia, obstetrícia, pediatria, neonatologia, mastologia, também já realizou dois cursos de especialização em enfermagem obstétrica para suprir a necessidade do mercado, pois ainda existem poucos com essa formação. “A UFG e a Fundahc têm trazido essa contribuição para a população goianiense, que é a formação e qualificação de profissionais para trabalhar nas demais unidades de saúde do Município, aprendendo a lidar e compreender melhor os princípios e valores do atendimento preconizado pelo Ministério da Saúde, pelo SUS, e a gestão humanizada do cuidado”, destaca a analista de projetos.
Credibilidade
A reitora da UFG, Angelita Lima, esteve presente na comemoração dos 10 anos do convênio e ressaltou que o hospital tornou-se referência devido à qualidade de sua gestão. “Pude testemunhar o engajamento e compromisso da equipe dos que trabalham na maternidade”, ressaltou. Ela também destaca que boa parte dos médicos e médicas são egressos da UFG ou têm vinculação com o Hospital das Clínicas ou a Faculdade de Medicina da UFG. “Essa gestão é uma grande responsabilidade, mas também é uma realização importante e isso faz o diferencial do atendimento”, afirma.
Gestão humanizada do cuidado é uma das tarefas da maternidade
O Professor da Faculdade de Medicina da UFG e Médico Ginecologista do Hospital das Clínicas da UFG/Ebserh, José Miguel de Deus foi diretor-geral do Hospital e Maternidade Célia Câmara (HMMCC), também gerido pela FUNDAHC, UFG e SMS desde sua criação até meados de 2022. José Miguel ressalta que, para que esta parceria exista há mais de 10 anos, e com a adição de novas unidades de saúde para esta gestão compartilhada ao longo do tempo, vários fatores influenciaram. Um deles é a credibilidade que a UFG tem diante da população, por propiciar um ambiente mais propenso ao ensino e a pesquisa, que sempre vão qualificar a assistência, o ensino e a pesquisa.
“Existe uma tendência de que parcerias entre instituição pública com instituição pública tenham prioridade legal. Depois é que vêm as filantrópicas e, por último, as privadas. Há também o interesse, o zelo e o cuidado na formação de novos profissionais para o SUS e para a sociedade em geral, inclusive para o mundo privado. É uma coisa que a Universidade tem muita tradição, especialmente na área da saúde”, relata José Miguel.
O médico e gestor hospitalar ressalta a recente atuação da UFG no enfrentamento à pandemia de covid-19. "A Universidade deu mostras durante a pandemia que tem muitas coisas para oferecer para a Secretaria Municipal de Saúde. As consultorias de epidemiologistas, por exemplo. Eu penso que a Universidade tem muitas qualidades e imagino também que a um custo muito menor para fazer a gestão dessas unidades do que o que seria cobrado por instituições ou outras organizações sociais”, compara.
José Miguel relatou a celeridade do HMMCC durante as fases mais críticas da pandemia. “Em três semanas conseguimos dar uma resposta de abrir 30 leitos de UTI. Depois, quando foi necessário, chegamos a 85 leitos de UTI, e foi onde a secretaria sofreu menos. Também assumimos as gestantes de covid de Goiás inteiro”.
O diretor-geral do HMCC lembra também da seriedade da FUNDAHC, que tem um Conselho Curador formado por 9 membros, indicados pelo Conselho Universitário (Consuni) da UFG, vindos de entidades científicas, empresariais ou profissionais, além de um assento para um representante do Ministério Público.
“A população tem a Dona íris como referência não só em Goiânia, como no Estado todo. Nós recebemos pacientes de várias cidades do entorno de Goiânia e até de mais longe, buscando a qualidade do atendimento que é prestado lá. O parto humanizado, com a participação ativa da mulher nesse processo tão importante na sua vida, ter um acompanhante da sua escolha presente em todo momento. São resultados que trazem bastante satisfação para todos que trabalham lá na maternidade, assim como esse reconhecimento da população é bastante importante para todos nós. Mostra que estamos no caminho certo, que o atendimento pelo SUS tem que ter qualidade”, arremata a analista de projetos da FUNDAHC, Maria Auxiliadora.
Lucilene Sousa, diretora executiva recém chegada à FUNDAHC, também reforça que os convênios firmados com a Prefeitura de Goiânia, UFG e fundação ao longos desse anos devem-se à referência, ao respeito e à credibilidade da UFG na sua missão - formação e a atualização dos trabalhadores de saúde que atuam no SUS. "Essas instituições estão comprometidas com o bem-estar, saúde dos usuários e trabalhadores da saúde com a transparência, a ética e o respeito. Os profissionais que atuam nas instituições municipais geridas pela FUNDAHC atuam de forma humana e competente cumprindo ou superando a oferta de um serviço assistencial de qualidade muito além do território da capital. O reconhecimento do serviço ofertado pode ser constatado pelo recebimento de títulos emitidos pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), assim como nas avaliações internas e entre os trabalhadores que ali atuam", pontua. Ela também avalia que sempre devemos reconhecer todas as conquistas desta cooperação mútua entre os participes, mas que devemos estar atentos para reconhecer e propor possíveis avanços desta parceria, visando o pleno desenvolvimento de atividades de assistência à saúde aos usuários do SUS e a docência acadêmica em saúde no âmbito do ensino, pesquisa e extensão dos cursos correlatos à saúde da Universidade Federal de Goiás.
Vantagens mútuas
O diretor do Hospital das Clínicas da UFG, administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), e presidente do conselho curador da FUNDAHC, José Garcia, conselho que faz a gestão dos convênios na fundação, acredita que a escolha da FUNDAHC para agir como administradora e gestora das maternidades é extremamente positiva, no sentido da melhoria da assistência e da qualificação, na busca por melhores práticas e ações mais atualizadas e avançadas do ponto de vista científico, uma vez que a UFG está à frente deste desenvolvimento. “Este convênio traz vantagens mútuas importantes: as maternidades como campo de estudo e aprendizado dos profissionais que atuarão no SUS e os pacientes ali atendidos, que terão atendimento da melhor qualidade e da melhor medicina, melhores condições previstas em qualquer parte do mundo”. A FUNDAHC, segundo ele, representa conhecimento acadêmico, científico e capacidade da universidade de estender-se a outros hospitais públicos e melhorar a prática da ciência médica e da saúde.
Ele explica que o diferencial da Universidade como gestora é o conceito universitário de formação, desenvolvimento da ciência através do conhecimento científico profundo. Para ele, com a gestão universitária a gestão sai da condição de apenas cumpridora de números quantitativos e passa a preocupar com o qualitativo. “Quanto mais se atender, melhor, sabemos da demanda de população carente, principalmente nas maternidades que trabalham com saúde da mulher e da criança, mas quanto mais bem tratado estes pacientes forem, melhor para o futuro social de todos”.
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