OMS libera uso de leite de vaca para crianças maiores de seis meses, mas pediatra alerta para riscos
Médica da Maternidade Dona Iris afirma que o leite de origem animal pode desencadear obesidade infantil e anemia ferropriva
Texto: Thalita Braga
Foto: Freepick
A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou uma nova diretriz, no final de 2023, que liberou o uso de leite de vaca para crianças maiores de seis meses. A decisão levanta debates sobre os potenciais benefícios e riscos associados a essa mudança, entre elas a obesidade infantil e a anemia ferropriva. Para a pediatra do Hospital e Maternidade Dona Iris (HMDI) Vanessa Tipple, introduzir o leite animal e alguns derivados para criança a partir dos seis meses de vida permite identificar alergias. “Esse é um período de janela imunológica da criança. Então, é um período favorável em que nós podemos introduzir alimentos potencialmente alergênicos, e o leite é um deles”, afirma.
A médica orienta que, mesmo com a atualização da diretriz da OMS, que permite o contato com leite de origem animal após os seis meses, é crucial estar atento aos sinais de alergia. “Vômitos, diarreia, sangramento nas fezes, distensão abdominal e dermatites são alguns indicativos de alergia à proteína do leite de vaca”.
Segundo dados do Guia Alimentar para Crianças, do Ministério da Saúde de 2019, o leite de vaca é o alimento ingerido pela mãe que mais causa alergia na criança. Vanessa destaca que em qualquer caso relacionado à reação alérgica, é fundamental procurar o médico para o devido diagnóstico e tratamento.
A pediatra destaca que o leite de vaca não é nutricionalmente adequado para crianças, apresentando alto teor de proteína propenso à obesidade infantil: “É um leite que não tem ferro com boa absorção, não tem vitamina A, vitamina E, e não tem zinco, além de ter uma porcentagem de gordura muito alta”.
Vanessa explica que o uso de leite de vaca está intimamente relacionado com o desenvolvimento da anemia ferropriva em crianças. “A anemia da infância, onde a criança consome muito leite, ela vai ter um aporte de cálcio, mas não vai ter aporte de outros nutrientes, como ferro, zinco, e vai ser uma proteína muito grande, uma proteína que não foi feita para o ser humano digerir, então favorece a obesidade infantil”, assinala.
Ao abordar alternativas para crianças que não podem consumir leite materno, a pediatra destaca inicialmente o uso de fórmulas infantis como opções monitoradas pela Anvisa, imitando o leite materno e que são rigorosamente avaliadas quanto à qualidade. “Se a família do bebê tiver condições de oferecer a fórmula infantil, essa é a primeira opção, mas a OMS criou essas novas recomendações pensando na população em geral, nas que têm condições e nas que não têm condições, visto que o custo das fórmulas muitas vezes não cabe no orçamento familiar, e o leite de vaca diluído da forma correta e acompanhado de suplementação vitamínica também pode ser uma opção”, esclarece.
Vanessa reforça a importância do aleitamento materno e afirma que esse deve ser o único alimento da criança até os seis meses de vida. “Se a criança recebe aleitamento materno, não há necessidade de oferecer outro tipo de leite. Já após essa idade, a combinação de leite materno com alimentação complementar atende às necessidades nutricionais da criança e tem uma série de benefícios como fortalecimento do sistema imunológico, desenvolvimento neurocomportamental e a diminuição da mortalidade infantil”, pontua.
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