MNC: 20 anos de tradição, humanização e respeito à mulher e à família
Maternidade Nascer Cidadão celebra história pioneira de transformação do serviço de obstetrícia e no olhar à gestante
Neste 28 de setembro de 2020, comemoramos 20 anos de existência da Maternidade Nascer Cidadão (MNC). A história da maternidade em muito se confunde com a do Jardim Curitiba, com a de Goiânia e com a transformação da Saúde da Mulher no Brasil. Desde o seu surgimento, a maternidade tinha o propósito de ser um espaço respeitoso, acolhedor e humanizado às gestantes que buscavam o serviço público para dar à luz. Profissionais de saúde, população e autoridades se dedicaram a mudar paradigmas que estavam enraizados na assistência ao parto e construíram uma nova forma de enxergar este momento que foi aplaudida e copiada de norte a sul do país.
Em 20 anos, a MNC soma 90 mil atendimentos, mais de 60 mil partos, sendo 65% normais, e, nos últimos dois anos, 90% dos partos foram realizados por enfermeiros obstetras, o que demonstra baixíssimo número de intercorrências, intervenções médicas e manutenção da saúde da mãe e do bebê. A unidade tem ainda sistema informatizado de gestão com chamada dos pacientes em painel eletrônico e atendimento com acolhimento e classificação de risco, além de uma equipe multidisciplinar composta por médicos gineco-obstetras, pediatras, fonoaudiólogos, psicólogos, odontólogos, serviço social e equipe administrativa.
Desde seu surgimento, o foco foi a humanização do serviço prestado às mulheres que buscavam a unidade para dar à luz. Após um trabalho intenso de quebra de paradigmas e mudança de conduta, ela foi alcançada e mantida até os dias atuais. Neste ano, a gestão MNC está em busca de alcançar uma Acreditação Hospitalar para melhorar ainda mais a qualidade dos serviços prestados à comunidade, melhorando os processos internos e garantindo a segurança de pacientes e colaboradores.
Humanização
Dentre as diversas condutas e ações que reforçam o pioneirismo da unidade de saúde na humanização da obstetrícia estão a participação de um acompanhante à escolha da mulher durante pré-parto, parto e pós-parto, tratamento respeitoso do pré-natal ao nascimento, formas de alivio da dor, respeito às crenças da família e tratamento individualizado.
“Os propósitos iniciais e seguidos até hoje são que o parto fosse saudável para todos e que trouxéssemos a vivência familiar desde o primeiro momento de vida do bebê”, diz o pediatra Sebastião Leite, um dos primeiros profissionais a atuar na MNC, relatando que até então, “o parto era trazido para hospital, mas de forma disfuncional, dolorosa e traumática. Não tratavam como algo fisiológico e não permitiam a participação da família”.
A enfermeira obstetra Suelena Verano, primeira coordenadora de enfermagem da unidade, lembra que buscava-se seguir os princípios do parto Leboyer, quando são usadas técnicas para que a primeira experiência do bebê fora do útero seja menos traumática. No entanto, como todo processo de mudança, essa nova forma de assistência humanizada sofreu certa resistência e a atuação da gestão foi fundamental para conseguir adesão dos profissionais.
“Nós, que já estávamos trabalhando a humanização do parto há certo tempo, acreditamos que a resistência se deu pelo receio de lidar com o novo, uma vez que o treinamento durante as residências médicas era extremamente intervencionista e, muitas vezes, invasivo. Já no parto respeitoso, pela primeira vez, a protagonista é a mulher, é destacada a importância do acompanhante à escolha dela, outra novidade até então impensável, e a intervenção apenas quando necessária”, pontua.
Ela recorda também do sentimento de pertencimento construído ao longo do tempo e espalhado entre os profissionais da unidade. “Temos uma paixão pela MNC, de coração. Tivemos experiências maravilhosas e me lembro do primeiro bebê que nasceu. Foi de madrugada e a gente (equipes) queria ir até a unidade para vê-lo. Fomos românticos”, discorre Suelena, reforçando que o apoio do Ministério da Saúde foi fundamental para alcançarem a forma de atendimento que almejavam: “Eles acreditavam na nossa conduta, éramos falados no Brasil todo”.
Logo no primeiro ano de fundação, a maternidade ganhou os títulos de Maternidade Segura e Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Nos anos seguintes, foi reconhecida Hospital Amigo da Mulher, ganhou o prêmio Galba Araújo e hoje, faz parte da Rede Cegonha.
A paixão pela assistência humanizada segue forte entre os colaboradores, que buscam diariamente prestar um serviço de qualidade aos pacientes. A família MNC se dedica às capacitações e treinamentos para garantir a melhoria contínua da assistência e continuar construindo uma história de respeito, carinho e humanização na assistência ao parto.
O surgimento
No final da década de 80, uma pesquisa mostrou que a Região Noroeste tinha os piores indicadores relacionados à mortalidade infantil em Goiânia e, além disso, as ações públicas realizadas até então com o objetivo de reduzir o número de mortes durante o parto ainda eram incipientes. A partir deste momento, o médico Elias Rassi Neto levantou a bandeira para maior atuação do setor público na redução da mortalidade infantil na cidade.
Em 1996, com Nion Alberaz eleito prefeito de Goiânia, Elias Rassi assumiu a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) e a partir daí começou a realizar tal projeto. Das diversas mudanças alcançadas neste período, estão a implantação de mais de 70 equipes de Saúde da Família (só existia uma), a municipalização da Saúde Pública e a criação de condições financeiras para a SMS executar o plano de desenvolver a saúde de Goiânia.
“Conseguimos o aporte de recursos junto ao Governo Federal para a construção da maternidade, além de desenvolvermos a Carteira da Criança, iniciativa direcionada à proteção infantil e à mudança de paradigmas quanto ao serviço de obstetrícia”, lembra Elias, ressaltando que o plano fazia parte do Projeto Nascer Cidadão, em que a MNC estava inserida, e foi um "divisor de águas na forma que a medicina obstétrica era vista, provocando alterações importantes na relação entre a quantidade de procedimentos operatórios e nascimentos naturais no número total de partos realizados”.
O projeto da maternidade foi realizado a muitas mãos. Elias conta que a escolha do local, perto de uma área verde, foi proposital e que o projeto arquitetônico visava, ao mesmo tempo, privacidade e troca entre as famílias. “A mata ao redor da unidade auxilia a manutenção da integridade da área. Junto com arquitetos urbanistas desenvolvemos o conceito dos apartamentos individuais e frente a frente para favorecer a troca de informações entre famílias”, destaca.
Participação da comunidade
Uma das providências para a construção da MNC foi que empreiteira realizadora da obra contratasse moradores da região para executar o projeto. O mesmo aconteceu na seleção dos diversos profissionais que atuariam na unidade de saúde. Foi então que o senso de pertencimento da maternidade à população do Jardim Curitiba foi se ampliando. “Foi um fator diferencial, porque tínhamos pessoas próximas ajudando no cuidado da unidade. A comunidade assumiu a MNC e entendeu que o processo de atendimento era igual a todos”, assinala o pediatra Sebastião Leite.
Sebastião Fernandes Moreira
Nome fundamental para que o propósito de humanização fosse alcançado foi o do ginecologista-obstetra Sebastião Fernandes Moreira. Ele foi introdutor em Goiás do Parto Leboyer, em 1979, e por mais de 10 anos ele ocupou cargo de Diretor-Geral da MNC, implantando na unidade a Assistência Humanizada ao Parto e ao Nascimento. O amor que o dr. Sebastião Moreira tinha pela unidade era tamanho que ele comprou uma casa nas redondezas para que ele estivesse sempre por perto. Seu falecimento no início de 2020 gerou grande comoção entre a equipe da maternidade, que prestou homenagens enaltecendo seu trabalho.
Katherine Marie Popowich
Muito atuante na área da saúde, Irmã Katherine Marie Popowich solicitou à SMS a construção de 3 casas de parto na Região Noroeste sem saber que já existia o projeto da MNC. A maquete da unidade foi apresentada a ela, que ficou surpresa e de pronto apoiou a execução. Em 2014, dois anos após sua morte, o nome da freira foi incorporado ao da unidade.
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